Para especialistas, um projeto terapêutico muito mais eficiente poderá ser elaborado a partir dos resultados
Adolescente ou adulto jovem, de nível escolar baixo, sem nenhuma experiência de trabalho formal e com os laços familiares perdidos. É esse o perfil sociodemográfico dos usuários de múltiplas drogas, incluindo o crack, no Ceará.
Os dados são da pesquisa inédita, realizada no último ano, com os pacientes que deram entrada na Unidade de Desintoxicação (UD) do Hospital de Saúde Mental de Messejana (HSMM), por onde passa a maior parte da demanda de usuários de drogas de todo o Estado.
O médico psiquiatra Raul Nepomuceno, autor do estudo, explica que os pacientes tinham, em média, de sete a oito anos de consumo de três ou mais drogas, e que muitos já tinham feito tratamento anteriormente.
Somente em 2011, foram internados na UD 670 dependentes químicos. Destes, 231 consumiam múltiplas drogas. Ele explicou que a demanda deste tipo de paciente é crescente no HSMM.
O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (CEBRID) estima que 7,5% dos 8.448.055 habitantes do Ceará sejam usuários, ou seja, aproximadamente 634 mil pessoas.
Os dados são baseados em perguntas diretas feitas à população, assim como tomam por base indicadores como registros de atendimentos médicos da Policia Federal e do Instituto Médico Legal (IML), por exemplo, que indiretamente revelam se as pessoas estão expostas ou não ao uso de drogas.
Políticas públicas
A coordenadora do Hospital Dia Elo de Vida, Sandra Coelho, informou que agora o Estado tem uma pesquisa específica que poderá nortear políticas públicas mais eficientes tanto para prevenção quanto para o combate ao crack e outras drogas.
"Não é que nós não tenhamos uma política de tratamento para essas pessoas, mas, hoje, elas são tratadas de forma generalizada como dependentes químicos. E a partir desse perfil poderemos ter um projeto terapêutico muito mais eficiente para cada um", avalia Sandra Coelho. Outro ponto destacado pelos especialistas foi em relação às mulheres que fazem uso de crack e múltiplas drogas. Elas não entraram na pesquisa.
Segundo eles, o Estado não possui uma UD com vagas femininas e, na Capital, a única existente está na Santa Casa de Misericórdia, que possui 12 vagas e tem apenas quatro leitos destinados para mulheres.
"A pesquisa só avaliou os internos na UD, e essa tem suas vagas destinadas aos homens. Hoje, quando uma mulher chega em crise de abstinência e precisa ser internada, nós a enviamos para o setor psiquiátrico e, lá, ela fica com outras pessoas que não têm o seu perfil, portadores de transtornos mentais dos mais variados", declarou Sandra Coelho.
A coordenadora informou ainda que, quando estas mulheres não podem mais ficar nesses setores psiquiátricos, são encaminhas para comunidades terapêuticas e, hoje, só existe uma em todo o Ceará.
Estudo traça primeiro perfil do usuário de drogas no Ceará
A pesquisa, além de traçar o perfil desse usuário no Estado, também constata que a Entrevista Motivacional (EM), por meio da realização de três sessões nos primeiros 10 dias de UD, alcançou resultados satisfatórios como a diminuição do consumo do crack, além de aumento do tempo de abstinência em pacientes que foram internados.
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